Cascos e Casqueamento
- @juuliabrenda
- 23 de fev. de 2024
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O casco é a cobertura córnea ou unha grossa, equivalente ao dedo médio humano, consistindo de três ossos conhecidos como primeira, segunda e terceira falanges. O casco envolve a terceira falange, o osso navicular e parte da segunda falange, sendo uma estrutura especializada, projetada para resistir ao desgaste, suportar o peso do animal e absorver o impacto, reduzindo assim o surgimento de injúrias no aparelho locomotor. O anterior é maior e mais oblíquo que o posterior.

É formado de epitélio de queratina (O epitélio estratificado pavimentoso queratinizado contêm abundante quantidade de queratina, de modo a prevenir a perda de água e a penetração de agressões químicas e físicas). A sua estrutura externa é composta por: muralha do casco, ranilha, sulcos da ranilha, lacunas, barras laterais, vértice da ranilha, ramos da sola (palma), quartos ou ombros, pinça, talões, bulbo, sola e linha branca.

Ranilha
Uma importante função da ranilha é a de atuar como um elemento amortecedor do impacto nos cascos e auxiliar na irrigação sanguínea para o interior dos cascos. Deve ser mole, elástica e forte, bem desenvolvida e conformada, estando sempre em perfeitas condições de saúde.
Matéria Córnea
A matéria córnea do casco deve ser escura, rija e dotada de certa elasticidade, apresentando superfície lisa, íntegra e brilhante.

Forma
O casco dever ser simétrico e ter as partes anterior e inferior mais largas; a pinça deve ter o dobro do comprimento dos talões e formar um ângulo de cerca de 50º com a horizontal; o períoplo, reto e inclinado de diante para trás; a face plantar, larga; sola côncava; ranilha volumosa, bem feita, elástica e forte; lacunas largas e bem acentuadas.
Os cascos podem ser considerados bonitos quanto ao volume, à forma, à qualidade da matéria córnea e aos aprumos. O pé deve ser relativamente volumoso, porém o seu tamanho depende da raça e do tamanho do animal.
O casco também é uma forma de defesa que o cavalo possui, pois, para dar o coice o cavalo utiliza os cascos, o coice é feito sempre para trás, nunca para os lados, pois o cavalo possui ligamentos que não permitem a movimentação dos membros posteriores para a lateral.
O casco, embora pareça uma parte do corpo estática, está sempre num processo dinâmico de mudanças as quais dependem da raça, da idade, do tipo de atividade desempenhada e a sua maior ou menor intensidade.
Casco dos potros
O potro recém-nascido possui um casco pontudo, estreito, muito mole e com a base coberta com um invólucro delicado e córneo. Este, porém, cai em poucos dias e o desenvolvimento do verdadeiro casco se inicia.
Quando o potro tem 3 meses de idade, pode-se começar a usar uma faca própria para o preparo do casco. O exame frequente dos cascos dos potros e a manutenção deles sempre limpos e aparados irá ajudar muito para um perfeito desenvolvimento. Os animais jovens também devem se exercitar bastante em terrenos secos, pois os cascos irão se formando de modo uniforme, podendo ser necessário apenas, ocasionalmente, raspar e arredondar as bordas da pinça a fim de se evitar quebras da parede.
Quando os potros permanecem na baia por muito tempo, não gastam os seus cascos e, nesses casos, deve ser raspados e limpos uma vez por semana.
As solas e fendas da ranilha devem ser examinadas e todo o pé lavado com regularidade.
Crescimento dos cascos
O crescimento acontece porque as células do corpo mucoso proliferam de maneira contínua e vão se queratinizando, de tal maneira, que a córnea vai se renovando sem cessar, por justaposição de novos elementos, cada nova camada de córnea que se forma empurra a camada formada antes, determinando o crescimento do casco. Esse crescimento é de cima para baixo e cresce até 8,5 milímetros por mês. Em um ano os talões terão crescido um centímetro mais que a pinça.
Regeneração
O casco possui, ainda, a capacidade de regeneração (queratogênese), é feita a formação de novo tecido córneo para reparar uma porção do casco que foi destruída. A renovação total da córnea se faz em nove a dez meses na região da pinça e em três a quatro meses nos talões, sendo um pouco mais rápida nos pés traseiros. Alguns fatores podem influenciar ou não na regeneração do casco, são eles:
Raça — nos cavalos de raça pura, a regeneração do casco é mais rápida;
Idade — a regeneração é mais rápida quanto mais novo for o cavalo;
Exercícios — os exercícios ativam a regeneração por estímulo direto dos órgãos encarregados da formação da córnea e por acarretar o aumento do extravasamento do plasma sanguíneo;
Comprimento do casco — o excesso de casco se opõe à descida das camadas de nova córnea, acarretando compressão da matriz;
Mau ferrageamento — a má ferragem, quando influi de uma maneira desfavorável sobre a nutrição do pé, fatalmente prejudicará o crescimento;
Aprumos — num cavalo mal aprumado (é o posicionamento correto dos membros do cavalo, proporcionando sustentação e equilíbrio perfeitos, seja em estação ou em movimento), o crescimento da camada córnea é maior nas regiões que sofrem menos peso;
Inflamação do Bordalete — os estados congestivos do bordalete aumentam a sua atividade funcional, observando-se um engrossamento da parede;
Manqueiras — na manqueira, a falta de atividade da extremidade locomotora, é seguida de uma diminuição do crescimento do casco, por falta de estímulo do bordalete;
Alimentação — os efeitos de uma alimentação de qualidade se refletem sobre todas as funções orgânicas, inclusive a queratogênese.
Casqueamento e Ferrageamento
Tanto o casqueamento e o ferrageamento tem como finalidade não somente a manutenção dos cascos, mas também o equilíbrio do animal.
Ao analisar, considere basicamente que o corpo do cavalo deve ser dividido em três partes iguais, como mostrado na figura abaixo.

Verifique se, ao traçar linhas como as vistas na figura, são obtidos ângulos o mais próximo possível do que é mostrado.
Projeções de linhas que indicam equilíbrio entre as partes do corpo de um equino. Ângulos abaixo de 48° são considerados “achinelados”, enquanto acima de 56° são considerados muito levantados (encastelados).
Deve-se fazer a verificação do equilíbrio do animal por meio da observação do centro de suspensão dos membros anteriores e posteriores e do eixo direcional, em que:
— O centro de suspensão diz respeito ao ponto em que os membros se interligam ou se apoiam no tronco.
— O eixo direcional se refere à linha que une o centro de suspensão ao centro de apoio. Quanto mais verticais são os eixos direcionais, maior é a sustentação do corpo com mínimo de fadiga da estrutura corporal.
Também o centro de gravidade (o ponto onde se concentra o peso de todo o corpo do cavalo e onde ele se apoia) tem de ser considerado.
Nos equinos, os membros anteriores suportam 60% do peso total do corpo. Isso quer dizer que esses membros são mais exigidos por isso, estão mais sujeitos à incidência de claudicação nesses membros.
Por isso o casqueamento e o ferrageamento desses membros merece atenção redobrada, embora se deva tomar cuidado também com os membros traseiros, sobre os quais o animal se apoia quando faz esforços de tração, em arrancadas ou nos saltos.
Essa variação de esforços, em função do tipo de atividade realizada pelo animal, acaba determinando que o centro de gravidade possa variar de forma previsível conforme a classificação do animal. Nos equinos usados em corridas, como os membros são mais longos e um pouco afastados, o centro de gravidade, normalmente, é mais avançado, o que as torna mais velozes. Já raças consideradas mais aptas à tração, normalmente, apresentam membros curtos e mais afastados, de forma que o eixo de gravidade fique mais centralizado, o que aumenta a estabilidade do animal. Por outro lado, para as raças mais usadas para sela, que suportam o peso da montaria por períodos mais prolongados, o ideal é que o centro de gravidade seja um pouco mais recuado, para que esse esforço seja suportado de forma menos desgastante.
Além de saber, verificar o equilíbrio do animal, deve-se também conhecer o nome de cada parte de um cavalo, particularmente dos membros e dos cascos.
As chamadas Regiões Zootécnicas dos membros recebem denominações relacionadas à estrutura óssea (Osteologia) que as compõem.
O conhecimento dessas regiões e da sua localização, mostradas na figura abaixo, é indispensável na análise da conformação, a qual levará em conta seu tamanho, cobertura muscular, angulações formadas e a proporção entre elas.
Estruturas que compõem os membros de um equino:

Membros Anteriores
Espádua: Região do osso escápula, abaixo da cernelha e acima do braço. É avaliada de perfil, observando-se a cobertura muscular e o ângulo formado com a horizontal, que deve ser, em média, de 55°, com alguma variação entre indivíduos.
Braço: Região do osso úmero, situada entre a espádua e o codilho.
Codilho: Situado na porção posterior do braço acima do antebraço, na extremidade da ulna.
Antebraço: Compreende a região do osso rádio, entre o codilho e o joelho.
Joelho: Região dos ossos cárpicos, situada entre o antebraço e a canela.
Canela: Situa-se entre o joelho e o boleto. Na conformação correta, deve-se apresentar perpendicular ao solo, sem desvios ou saliências.
Boleto: Região entre a canela e a quartela, que deve ser contínua à canela, sem a presença de saliências.
Quartela: Região da falange entre o boleto e a coroa do casco, que deve ter tamanho médio, proporcional ao membro, sem a presença de desvios laterais, com uma angulosidade paralela à paleta.
Membros Posteriores
Nádega: Está situada abaixo da garupa e se estende até o jarrete, podendo apresentar-se mais musculosa (linhas arredondadas) ou mais seca (linhas mais perpendiculares ao solo).
Coxa: Corresponde ao osso fêmur, entre a garupa, a nádega e a soldra, devendo ser longa e musculosa.
Soldra: Região articular entre a coxa e a perna, onde está a rótula (também chamada patela), que deve apresentar-se alinhada com o membro posterior, sem desvios laterais.
Perna: Corresponde à região dos ossos tíbia e fíbula, situada entre a soldra e o jarrete. Na conformação ideal, apresenta-se longa, musculosa e alinhada, formando um ângulo de cerca de 60° com a horizontal.
Jarrete: Está localizado entre a perna e a canela, compreendida pelos ossos tarsos e o calcâneo. Deve ser longo e alinhado com o membro.
Canela: Situado na região dos metatarsos, entre o jarrete e o boleto e que deve ser perpendicular ao solo, sem desvios ou saliências ósseas, com tamanho proporcional ao membro.
Boleto: Localizado entre a canela e a quartela, deve ser contínuo à canela sem saliências laterais ou anteriores. Na sua porção posterior, o boleto apresenta uma formação córnea conhecida como machinho.
Quartela: Localizada entre o boleto e a coroa do casco, na região das falanges proximal e média. Na conformação adequada, apresenta-se sem desvios laterais, com tamanho médio, proporcional ao membro. A inclinação da quartela dos membros posteriores, em geral, é ligeiramente maior que a inclinação da paleta.
Cuidados
O local onde o animal fica influência muito na condição do casco: pisos muito molhados e úmidos podem propiciar a podridão das ranilhas, assim como o piso grosso pode causar desgaste irregular.
Um casco sadio apresenta camada densa e resistente, com níveis de umidade externa em torno de 15 a 20%. Já a camada interna com umidade média de 45%, esse nível de hidratação é importante para haver absorção adequada de impacto durante exercícios.
A higiene do local também é de grande importância, visto que camas, urina e bebedouros com defeito podem causar excesso de umidade no local. É importante também ter cuidado com as fezes, elas podem causar leões de pele e dermatites na quartela.
Casqueamento
O casqueamento é uma manutenção ou tratamento para prevenir e curar doenças.
O casqueamento é de total importância para o cavalo, já que o casco é a base de sustentação de todo peso do animal, interfere na saúde das articulações e tendões, na qualidade da locomoção e no desempenho durante o trabalho.
Tipos de casqueamento
Existem dois tipos, o preventivo e o corretivo.
Preventivo
O casqueamento de manutenção, em função do crescimento normal do casco, medida que proporciona bem-estar ao cavalo, evitando possíveis dores e claudicações em função dos desníveis que podem aparecer, além de prevenir a ocorrência de doenças mais graves advindas desse crescimento, que ocorreriam sem o devido cuidado e manutenção necessária.
Corretivo
O casqueamento corretivo auxilia na correção de aprumos e precisa ser iniciado aos 2 meses de idade em cavalos que possuem desvios severos. Em animais com desvios considerados sutis, o casqueamento pode ser iniciado aos 4 meses de idade.
Vale dizer que as chances de sucesso na correção dos cascos são muito maiores se realizadas até os 9 meses de idade, pois nessa idade o fechamento epifisário começa a ocorrer. Assim, depois desse período, as cartilagens, que antes eram macias e fáceis de moldar, vão se tornando mais rígidas e menos maleáveis.
Como é feito?
O cavalo deve ser manejado corretamente, sem violência. A pata a ser trabalhada é segurada e então utiliza-se uma escova para tirar o excesso de resíduos como barro entre outros.
O mesmo procedimento é feito nas quatro patas.
A primeira ação será avaliar a situação dos cascos, olhando de cima, de frente e de trás, com o animal parado e em movimento sempre sobre uma superfície plana e dura.
A seguir, essa avaliação será feita na superfície plantar do casco. Para isso, a ferradura será retirada para que, a seguir, possa ser feita uma limpeza dessa área, com a remoção de todo o tipo de sujeira aderida a estruturas como sola, ranilha e sulcos.
Após tem início uma análise detalhada do casco, quando o casqueador verifica se há lesões, sinal de brocas e se o animal sente dor em alguma parte.
Verificada a situação do casco, o casqueador decide quais ações colocará em prática, para deixar os cascos nas melhores condições possíveis. Em geral, entre os procedimentos utilizados, está um eventual desgaste da sola e a restauração dos sulcos da ranilha (laterais e central) com a rineta.
No passo seguinte, é feita a aparação das pinças e o ajuste do contorno da linha branca, retirando-se os excessos da muralha, utilizando como ferramenta a torquês.
É feito o nivelamento da sola e da muralha e o arredondamento do contorno do casco com uma grosa.
Por fim, é feito o acabamento do trabalho com a aplicação de um selador.
Lembre-se sempre de observar a condição do casco antes de iniciar o processo, podendo identificar podridão de ranilha, rachaduras, fissuras, brocas ou qualquer alteração que deverão ser tratadas de forma medicamentosa.
Deve-se dar sempre muita atenção a dois aspectos: o nivelamento e o ângulo do casco.
A angulação é muito importante, porque está diretamente relacionada à estrutura corporal dos animais.
Nenhum casco é igual, assim como a forma como crescem e os desvios que sofrem. Logo, não existe uma receita de casqueamento, ou seja, cada casqueamento é praticamente único, o que exige atenção do casqueador.
Quais cavalos devem-se casquear?
Todos os animais devem ser casqueados, periodicamente, mesmo aqueles que não estão em serviço. O casco, embora pareça uma parte do corpo estática, sofre incessantes mudanças que, dependendo da raça, da idade, do serviço que o animal presta, podem se manifestar com maior ou menor intensidade.
De quanto em quanto tempo deve-se casquear?
O casqueamento deverá ser executado entre 4 e 6 semanas nos animais estabulados, podendo ser mais estendidos nos animais de campo.
Ferramentas
Rineta
Torquês
Grosa
Ferrageamento
Sem nenhuma proteção, o casco acaba se desgastando muito, impedindo o cavalo de ser utilizado para atividades de trabalho, esporte ou lazer por muito tempo. Por volta do século X a ferradura foi inventada, inicialmente feita de grama trançada. Ao longo do tempo, ela passou a ser confeccionada em couro e, posteriormente, se tornou o objeto de metal que conhecemos hoje.
A ferradura é uma proteção colocada no casco para evitar desgaste. Como é pregada numa parte do tecido já morta semelhante às nossas unhas, o animal não sente dor durante a sua colocação.
Ela aumenta a tração das patas, evita e corrige possíveis defeitos de formação e ainda ajuda a regular a marcha.
Cavalos no campo, não necessitam de ferraduras, porque o desgaste do casco se faz naturalmente, sem prejuízo para o casco do animal.
Referências bibliográficas
Comentaris